terça-feira, 12 de agosto de 2008

O Telefonema

É claro que isso é um conto da Dulce!!!
E feliz postagem número 100!!!!!!!

O telefonema pegou-a de surpresa. Atendeu com impaciência, os olhos presos a um livro que tinha nas mãos, uma história policial que não conseguia parar de ler. Era bom estar sozinha, lendo um livro de suspense numa noite de ventania. O sábado já estava quase no fim e ela ali, presa àquelas páginas. O som do telefone era uma intromissão, um estorvo. Atendeu o contragosto. Era uma mulher de voz ruidosa, rachada e misteriosa.
-Alô, diz Sophie.
-Sete dias, sussurra a mulher.
Sophie para, pensa... E percebe que já viu essa cena em algum lugar, seja na televisão ou nos cinemas. Irritada por a mulher ter interrompido sua gloriosa leitura, ela retruca, desligando o telefone logo em seguida:
-Ah, vá te catar!
A moça retoma a leitura de onde parou mas, alguns minutos depois, é interrompida novamente pelo som do aparelho. Atende com raiva:
-Alô. – Era a mulher novamente.
-Você não vai com a minha cara?
-Não!! Você liga na minha casa, atrapalha minha leitura, diz que eu vou morrer daqui a sete dias... E quer que eu vá com a sua cara?
-Quem disse que você vai morrer daqui a sete dias?
-Você... Não disse isso?
-Claro que não! Não está reconhecendo minha voz?
-Não.
-Sou eu, Clotilde. Sua tia que morreu há algumas semanas! – É claro que não era ela. Pelo menos era o que Sophie achava.
-Você está de brincadeira comigo? Acha que vou cair nessa história?
-E se eu lhe disser algo que só você e sua tia sabem?
-O que, por exemplo – Respondeu intrigada.
-O Assobiador foi encontrado por nós duas, e estava flutuando sobre o gelado Rio Daniel. – Sophie se espanta. A tia morrera no mesmo dia do acontecimento, a frente de seus olhos. Não poderia ter contado para alguém. Ou, ao menos, não havia como. Olha para o livro que está lendo, e observa o título prateado reluzindo à luz. Está escrito com letras grandes e curvas. Lê para si mesma: O Assobiador.
-Impossível... Como você descobriu? Como sabe?
-Acredite em mim, sou sua tia. Nunca ouviu falar em exorcismo, Poltergeist, ou mesmo Macumba? – Sophie fica confusa. O mundo à sua volta se distorce. Nunca acreditara nesse tipo de coisa.
-Se você é realmente minha tia, me diga, então: O que você quer comigo?
-Quero lhe avisar que, daqui a sete dias, você terá de passar o dia todo fora de casa. – A garota sente um calafrio. Não sabe se foi a janela aberta ou a expectativa de que algo nada agradável iria acontecer.
-Por que tenho que fazer isso?
-Sem perguntas, por favor. Apenas não volte para casa até o escurecer do dia.
-Tudo bem – Respondeu, trêmula.
A semana, ordinária, passou rápido demais para que Sophie percebesse o tempo. Acabara de ler O Assobiador, mas as frases de sua tia latejavam em seus pensamentos. Até que chegou o sétimo dia. O céu estava encoberto de nuvens prateadas, combinando com a leve brisa da manhã. Talvez chovesse, talvez não. Quem pode prever o futuro com tanta certeza?
De manhã, Sophie foi à universidade. Fazia faculdade de administração, e lá conhecera seu atual namorado: Albert Aim Steiner, um promissor cientista. Era o aniversário de 1 ano de namoro dos dois e, neste dia, Albert pediu Sophie em casamento, que obviamente aceitou. Após a faculdade, Sophie não queria de forma alguma voltar para casa, então passou nas lotéricas e apostou na Megasena... Mal sabia ela que seus números seriam premiados com o acumulado. No mesmo dia, Albert descobriu algo que é um grande avanço para a ciência que estuda as dimensões: Uma extensão para a teoria das cordas. Essa descoberta faria ele ganhar diversos prêmios, ficar conhecido mundialmente e sair na capa de revistas como Times, Galileu, Ciência Hoje, etc.
À noite, a jovem volta para casa sem entender o que acontece. Para ela, foi um dia normal.
Algum tempo depois, são visíveis os resultados obtidos naquele dia e, ricos e famosos, Sophie e Albert vão viver em uma enorme mansão em Barcelona, chamada popularmente de “O Anjo da Bruma”. Agora, Sophie entendera o recado de sua falecida tia.
Três dias depois de eles terem se mudado para o Anjo da Bruma, em uma tarde de céu ofuscante, Sophie lia um novo livro: “Resumo dos melhores filmes de suspense do cinema”. O som do tocar de um telefone ressoa no ar.
-Alô – Diz Sophie, incomodada.
-Sete dias! – Diz uma mulher, ruidosamente.
-Oi, tia! Como vai?
-Não sou sua tia!
Sophie se confunde, e a mulher desliga o telefone.
Sete dias se passaram, e Sophie morreu misteriosamente no jardim de sua casa, frente a um poço. As lágrimas de dor de Albert caíam sobre o rosto sem vida de sua ex-futura esposa, e não entendia a causa da morte. Jazia ali, rica e famosa*, perante o sussurrar do vento!

Moral da História: Dessa vida nada se leva! E não assista ou leia nada com nome de –O Chamado-!!!

*: Pessoas que ganham na loteria e são esposas de mega cientistas são ricas e famosas!!!

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